SEJAM BEM VINDAS, MAMÃES!

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Do quê os bebês REALMENTE precisam?


(Por Taicy Ávila)
            Hoje em dia, ao entrarmos em qualquer loja, vemos uma infinidade de produtos que, supostamente, são destinados às crianças, especialmente aos bebês. Roupas, calçados, alimentos e brinquedos (todos eles “educativos”, é claro). Há produtos de todos os tipos e gêneros. E tais produtos parecem multiplicar-se.
Tomemos como exemplo a alimentação dos lactentes. Ou seja, daqueles que se alimentam exclusivamente de leite. No primórdio dos tempos, não existia nenhum produto desenvolvido para esse mercado consumidor. A única fonte de alimentação dos bebês era o seio e o seu leite materno. Assim a infância da humanidade foi alimentada por milênios: ao seio. E, mesmo tendo vivido por longo tempo em condições as mais adversas possíveis, a espécie humana não pareceu se extinguir. Os bebês humanos não morreram todos de inanição ou de diarreia. Ao contrário. A espécie evoluiu de hominídeos primitivos para o tal homo sapiens sapiens que hoje domina (e também destrói) o planeta.
Porém, no século passado, inventou-se um novo alimento para bebês, chamado leite em pó. E, para dar-se o tal leite em pó aos bebês, era preciso alguma espécie de objeto. Assim foi inventada a mamadeira, e também o bico artificial. Mas hoje, numa breve olhadela em lojas onde mamadeiras possam ser compradas, é possível ver quem há dezenas de outros produtos que são vendidos com a função de “ajudar” na alimentação dos lactentes, inclusive para aqueles que ainda, milagrosamente, são alimentados ao seio. Vê-se hoje desde absorventes “higiênicos” para os seios da mãe até bicos de silicone para se colocar no seio da mãe durante a mamada, etc.
À medida que os produtos são disponibilizados, todas as mães passam a incluí-los na lista do enxoval do bebê. A prima, a vizinha, a colega, a amiga... todas usaram esses produtos. Por tanto ela, a nova mamãe, também deve precisar deles! Até mesmo médicos (pediatras e obstetras), às voltas com mães de bebês que se queixam de rachaduras dolorosas no bico do seio e outros possíveis problemas com a amamentação, passam a recomendá-los. Curiosamente, o que ninguém, ou talvez quase ninguém, observa, é que na embalagem de tais produtos vem impresso um selo com dizeres tais como: “O Ministério da Saúde adverte: o uso desse produto pode ser prejudicial à amamentação”. Ficou surpreso(a)? Está lá no rótulo, pegue um produto e confira. Assim como nas embalagens de cigarro, os fabricantes de tais produtos, tão “inofensivos”, são obrigados por lei a alertar ao consumidor dos eventuais riscos daquilo que estão vendendo com avisos impressos na embalagem.
Ninguém, ou talvez quase ninguém, diz às mães, por exemplo, que os tais absorventes “higiênicos” podem causar proliferação de fungos no bico do seio, os quais podem parar até mesmo na boca do bebê. Também não dizem à mãe que está usando o bico “protetor” de silicone no seio, pra “prevenir” ou “tratar” rachaduras, que ele prejudica a pegada da boca do bebê ao seio, fazendo com que o bebê de fato acabe ingerindo menos leite durante as mamadas e podendo até mesmo diminuir a produção de leite da mãe. Daí para o bebê “ganhar pouco peso” e precisar de “complemento de fórmula artificial”, como sabemos, é meio caminho andando. Com um pouco de informação correta, essa mesma mãe não precisaria do tal bico de silicone, ela seria capaz de corrigir a pega do bebê no seio (o que por si só não mais tornaria o bico do seio da mãe dolorido) mas, curiosamente, ninguém dá essa informação para a mãe.
Mas não bastam esses produtos já tão conhecidos. O mercado precisa ser ampliado. Por tanto, é necessário inventar novas traquitanas para “ajudar” na amamentação. E assim surgem novas maravilhas tecnológicas, tais como o “MILKSENSE” . Essa brilhante invenção supostamente mede quanto leite materno há no peito da mãe antes e depois da mamada, fazendo inclusive gráficos sobre a produção materna de leite. No vídeo promocional da empresa, afirma-se que “a última grande questão sobre o aleitamento materno foi respondida”. Realmente, a maioria das mães tem muitas dúvidas sobre o fato da sua produção de leite ser suficiente ou insuficiente para os seus bebês. Mas seria esta uma dúvida natural, inerente às mães lactantes? Ou será que essa dúvida foi plantada no coração delas por uma indústria que precisa vender “complemento” de leite artificial indiscriminadamente, a todos os bebês, como se todas as mães fossem incapazes de alimentá-los exclusivamente com o leite materno?

Eu mesma fui uma mãe que teve enormes dificuldades na amamentação (como, aliás, já relatei aqui nesse blog, . Por isso, digo por experiência própria: Uma mãe que está lutando para amamentar o seu filho já se sente insegura sobre a sua capacidade de produzir leite materno para o seu filho. Um aparelho que “meça” quanto leite ela tem “armazenado” no peito provavelmente a tornará cada vez mais ansiosa e insegura. Essa mãe precisará sim de acesso a informação correta, que lhe diga que o seio materno não é um mero “armazém” de leite. Pelo contrário, a maior parte do leite que o bebê de fato ingere durante a mamada, não estava “guardada” no peito da mãe, esperando para ser consumida, conforme o leite em pó estocado na lata. A maior parte do leite que o bebê ingere é produzida durante a mamada, pois é a sucção do bebê no seio que ativa os hormônios necessários para que o organismo da mãe inicie a “fabricação” o leite. Mas é claro que não interessa à indústria (seja ela fabricante de leite em pó ou do tal “Milk Sense”) que as mães saibam disso, pois, nesse caso, ninguém compraria os seus produtos.
Ao refletirem sobre os inúmeros produtos que hoje são vendidos como se fossem indispensáveis às crianças, os autores Martha e William Sears, disseram que:
“Quando passeamos por uma loja infantil, eu e minha esposa nos perguntamos como pudemos criar nossos oito filhos sem tantas dessas coisas: assentos infantis de plástico, babás eletrônicas, balanços mecânicos, berços que balançam, e todos os equipamentos high tech que prometem (por um alto preço) tornar os cuidados com bebês mais convenientes… à distância. (…)
O mercado de coisas para bebês é grande, e os pais que desejam sempre o melhor para os seu filhos, sempre estão prontos a abrir o talão de cheques ou entregar o cartão de crédito.
Aqui vai nosso conselho sobre equipamentos para bebês, materiais de estimulação infantil, e todas as coisas que enchem as prateleiras das lojas infantis por aí: escolha o HIGH TOUCH (muito toque) ao invés do HIGH TECH (muita tecnologia). O melhor brinquedo de todos para um bebê é outro ser humano.” (2001, p. 12)
Mas, infelizmente, a sociedade ocidental parece valorizar muito mais o “high tech” do que o “high touch”. Somos pródigos na invenção de aparelhos tais como berços, carrinhos, assentos e outros, desenhados especialmente para deixar os bebês longe dos braços dos adultos. Desde o momento em que recebem seu recém nascido, os pais imediatamente são admoestados com conselhos para não o pegarem “muito” no colo, se não ele ficará “mal acostumado”. Talvez por isso, a cada dia surjam mais e mais “assentos infantis” destinados aos bebês desde a mais tenra idade.
Dia desses deparei-me com a “CADEIRINHABUMBO” , cujo site oficial do fabricante afirma que “Assim que o seu bebê puder levantar a própria cabeça, você poderá sentá-lo na Bumbo Floor Seat. A cadeira tem um design técnico que dá suporte à postura do bebê, permitindo que ele interaja com o ambiente”. Ou seja, pelo site, presume-se que bebês ainda muito novinhos já devam ficar longe do colo dos adultos. Ele apenas sustenta a cabeça, não consegue ainda sentar-se sozinho, mas pode ser mantido sentado amarrado numa cadeirinha, com a finalidade de “interagir” com o ambiente. Na cadeirinha, ele não poderá mover o seu corpo de acordo com seus próprios instintos ou necessidades, não conseguirá rolar ou arrastar-se (atividades naturais de um bebê antes de andar, e essenciais ao seu desenvolvimento neuromotor). Então como, exatamente, ele poderá interagir com qualquer coisa?

Como se não bastasse esta cadeirinha, em seguida descobri a existência de outra, a “IPAD BABY SEAT” . O seu fabricante já é bastante conhecido de mães e bebês, e já havia lançado anteriormente assentos similares a este. Eu mesma adquiri um dos tais assentos, a “cadeirinha vibratória”. Animada com os relatos de amigas que acompanhava na internet, comprei a cadeirinha que prometia o milagre de acalmar os bebês, e fazê-los dormir em poucos segundos. Aqui em casa, foi um ledo engano. Meu filho jamais dormiu por um segundo sequer na tal cadeirinha; detestava sempre que o tal modo “vibratório” era ligado e protestava a plenos pulmões quando isso acontecia. Porém, se eu o pegasse no colo e o colocasse no sling, ele se acalmava e adormecia em poucos minutos. Para mim, esta foi uma demonstração muito clara de que nada substitui o contato do bebê com outro ser humano. Talvez alguém argumente que não posso usar apenas o meu filho como parâmetro para dizer que as tais cadeirinhas são desnecessárias, e o colinho da mamãe (ou de algum outro adulto carinhoso e disponível) é muito melhor para o bebê. Por tanto, reforço meu ponto de vista com as palavras do Dr. James Kimmel:
O bebê humano é uma criatura desamparada ao nascer. Ele é praticamente imóvel, não pode engatinhar, andar ou falar, além de ser muito limitado em sua habilidade de agir com um propósito. Diferente de outros primatas, ele não pode nem mesmo pendurar-se à sua mãe. Ele precisa ser carregado de um lugar ao outro. 75% do seu cérebro desenvolve-se após o nascimento. E ele não sobrevive sem o esforço de outro ser humano. Ele precisará de anos de desenvolvimento, até que possa cuidar de si mesmo. O desenvolvimento desamparado e imaturo do bebê exige uma fonte de cuidado. A natureza providenciou uma fonte para suprir essa necessidade – a mãe humana.”

O fato é que os bebês humanos nascem “incompletos”. Até os 3 anos de idade o seu sistema nervoso central ainda está em formação. E o contato com outro ser humano será de essencial importância para essa formação. Ficar amarrado a um assento de plástico, assistindo a DVDs “educativos”, ou “brincando” com um tablet simplesmente não proporcionam ao bebê os aquilo que o seu cérebro necessita para desenvolver-se. Mas, em oposição, ficar no colo da mãe e/ou de outros adultos amorosos, sentindo a pele, o olhar e a voz deles, é o mais poderoso estímulo ao desenvolvimento dos bebês mais novinhos (e para os mais “velhos”, de 1 ou 2 anos de idade também). É tudo o que a natureza, em milhares de anos de evolução, preparou para os bebês. Ou, como dizem Martha e William Sears: Então, deixe seu bebê enriquecer suas experiências a partir da paisagem em constante mudança, que ele vê enquanto você o carrega nos seus braços. São os relacionamentos, e não as coisas, que desenvolvem a inteligência do seu bebê.” (2001, p. 12)
Não bastassem tantas novas “maravilhas” tecnológicas aqui apresentadas, ainda tenho ainda que abordar o último dos absurdos que vi por aí. Trata-se da “PAPINHA EM SACHÊ” . Não basta a indústria de alimentos ter feito de tudo, ao longo do último século, para convencer às mães, demais familiares e aos pediatras que o leite materno é “fraco” em comparação ao maravilhoso leite em pó enlatado, e com isso contribuir para o desmame precoce quase universal na sociedade ocidental. Pois, um dia (a partir dos 6 meses de idade) os bebês passam a ingerir novos alimentos, além do leite. E se os bebês começassem a ingerir apenas alimentos naturais (tão naturais quanto o leite materno) tais como frutas verduras e legumes, a indústria perderia um belo mercado consumidor. E um mercado consumidor que representa não apenas o presente, mas também o futuro. Assim sendo, a indústria processa esses alimentos, os enlata, os envasa (antigamente, lá nos primórdios, em vasilhames de vidro) e agora... também os “ensaca” em sachês de plástico! E, ao fazê-lo propagandeia sobre o quanto o seu produto é prático, pois os bebês podem consumi-lo sozinhos ou, nas palavras do fabricante, com “muito mais independência”, conforme as necessidades dessa “nova geração”. Não importa que a propalada nova geração esteja consumindo alimentos artificiais super processados desde bebezinhos, quando deveriam estar desenvolvendo o seu paladar e a mastigação de forma adequada. Não importa que a nova geração talvez nunca venha a reconhecer a forma, o cheiro e o paladar de uma fruta “in natura”, por sempre tê-las visto processadas em saquinhos. E, claro, a obesidade infantil (e adulta) que assola a moderna sociedade ocidental não deve ter nenhuma relação com o fato de as crianças sempre haverem consumindo alimentos artificiais desde a mais tenra idade, não é mesmo?

Assim como nos tais produtos destinados a “auxiliar” na amamentação, que já abordamos aqui, as embalagens do leite artificial, das bebidas lácteas para bebês e das papinhas artificiais para bebês também contém uma advertência por escrito. Algo como “O Ministério da Saúde adverte: o uso desse produto pode ser prejudicial à amamentação, e não deve ser fornecido antes dos 6 meses de idade”. Mas, afinal de contas, ninguém lê rótulos e embalagens de produtos alimentícios. Pouco importa o que o Ministério da Saúde diz. E se aquela papinha industrializada, embalada miraculosamente no tão higiênico vidrinho ou sachê, já está disponível, por que ir pra cozinha preparar papinhas caseiras? E se a tal papinha industrializada é tão macia e homogênea que o bebê nem precisa mastiga-la, não há “problema” algum em dá-la para bebês menores de 6 meses, já que eles não vão se engasgar. A tentação para as mães muito atarefadas, sobrecarregadas ou simplesmente mal informadas e/ou pouco esclarecidas, é realmente gigantesca. Tão gigantesca quanto os possíveis malefícios de uma introdução alimentar precoce e mal feita é para o bebê.
Enfim, gostaríamos de dizer que o seu filho, e todos os outros bebês humanos, não precisam do leite artificial nem dos milhares de apetrechos que o acompanham; nem de cadeiras e assentos de plástico; nem de alimentos artificiais tão processados que podem ser colocados em sachês.
Segundo o Dr. James Kimmel, tudo o que os bebês precisam é de ternura. E esta não pode ser oferecida pelas quinquilharias à disposição para o consumo nas lojas de produtos infantis.
“Numa sociedade onde os bebês vivem e desenvolvem-se sem a presença e a ternura humana das mães, alguns bebês, se não a maioria deles, tornam-se seres humanos diferentes daquilo que deveriam ser. Eles precisam se adaptar aos substitutos da maternagem natural: leite artificial, berços, berços, carrinhos de bebê, objetos de estimação e cuidadores substitutos. Ao fazê-lo eles são, como os adultos, diferentes das pessoas que se desenvolveram na relação com uma mãe cuidadora. Crianças cuidadas de maneira imprópria e pouco acarinhadas crescem sem a internalização da ternura.”
Se você por acaso estiver preparando o enxoval ou o famoso quartinho do seu bebê, poupe o seu rico e suado dinheirinho. Tudo o que é realmente essencial e insubstituível para o bebê, a natureza já providenciou para ele, há milhões de anos: O leite materno, bem como a pele, o toque, o calor, a voz e o olhar da mãe (e de toda a família). Já está tudo aí, em VOCÊ. É tudo de graça, basta fazer o bom uso, sem reservas. O seu amado bebê lhe agradecerá por toda a vida!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [*]
Sears, W. & Sears, M. (2001). The Attachment Parenting Book: a commonsense guide to understending and nurturing your baby. Little Bown and Company, New York.
Kimmel, James. “The Human Baby”. Disponível em: http://www.naturalchild.org/james_kimmel/human_baby.html
[*] tradução nossa dos trechos citados na bibliografia original.

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