SEJAM BEM VINDAS, MAMÃES!

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Do quê os bebês REALMENTE precisam?


(Por Taicy Ávila)
            Hoje em dia, ao entrarmos em qualquer loja, vemos uma infinidade de produtos que, supostamente, são destinados às crianças, especialmente aos bebês. Roupas, calçados, alimentos e brinquedos (todos eles “educativos”, é claro). Há produtos de todos os tipos e gêneros. E tais produtos parecem multiplicar-se.
Tomemos como exemplo a alimentação dos lactentes. Ou seja, daqueles que se alimentam exclusivamente de leite. No primórdio dos tempos, não existia nenhum produto desenvolvido para esse mercado consumidor. A única fonte de alimentação dos bebês era o seio e o seu leite materno. Assim a infância da humanidade foi alimentada por milênios: ao seio. E, mesmo tendo vivido por longo tempo em condições as mais adversas possíveis, a espécie humana não pareceu se extinguir. Os bebês humanos não morreram todos de inanição ou de diarreia. Ao contrário. A espécie evoluiu de hominídeos primitivos para o tal homo sapiens sapiens que hoje domina (e também destrói) o planeta.
Porém, no século passado, inventou-se um novo alimento para bebês, chamado leite em pó. E, para dar-se o tal leite em pó aos bebês, era preciso alguma espécie de objeto. Assim foi inventada a mamadeira, e também o bico artificial. Mas hoje, numa breve olhadela em lojas onde mamadeiras possam ser compradas, é possível ver quem há dezenas de outros produtos que são vendidos com a função de “ajudar” na alimentação dos lactentes, inclusive para aqueles que ainda, milagrosamente, são alimentados ao seio. Vê-se hoje desde absorventes “higiênicos” para os seios da mãe até bicos de silicone para se colocar no seio da mãe durante a mamada, etc.
À medida que os produtos são disponibilizados, todas as mães passam a incluí-los na lista do enxoval do bebê. A prima, a vizinha, a colega, a amiga... todas usaram esses produtos. Por tanto ela, a nova mamãe, também deve precisar deles! Até mesmo médicos (pediatras e obstetras), às voltas com mães de bebês que se queixam de rachaduras dolorosas no bico do seio e outros possíveis problemas com a amamentação, passam a recomendá-los. Curiosamente, o que ninguém, ou talvez quase ninguém, observa, é que na embalagem de tais produtos vem impresso um selo com dizeres tais como: “O Ministério da Saúde adverte: o uso desse produto pode ser prejudicial à amamentação”. Ficou surpreso(a)? Está lá no rótulo, pegue um produto e confira. Assim como nas embalagens de cigarro, os fabricantes de tais produtos, tão “inofensivos”, são obrigados por lei a alertar ao consumidor dos eventuais riscos daquilo que estão vendendo com avisos impressos na embalagem.
Ninguém, ou talvez quase ninguém, diz às mães, por exemplo, que os tais absorventes “higiênicos” podem causar proliferação de fungos no bico do seio, os quais podem parar até mesmo na boca do bebê. Também não dizem à mãe que está usando o bico “protetor” de silicone no seio, pra “prevenir” ou “tratar” rachaduras, que ele prejudica a pegada da boca do bebê ao seio, fazendo com que o bebê de fato acabe ingerindo menos leite durante as mamadas e podendo até mesmo diminuir a produção de leite da mãe. Daí para o bebê “ganhar pouco peso” e precisar de “complemento de fórmula artificial”, como sabemos, é meio caminho andando. Com um pouco de informação correta, essa mesma mãe não precisaria do tal bico de silicone, ela seria capaz de corrigir a pega do bebê no seio (o que por si só não mais tornaria o bico do seio da mãe dolorido) mas, curiosamente, ninguém dá essa informação para a mãe.
Mas não bastam esses produtos já tão conhecidos. O mercado precisa ser ampliado. Por tanto, é necessário inventar novas traquitanas para “ajudar” na amamentação. E assim surgem novas maravilhas tecnológicas, tais como o “MILKSENSE” . Essa brilhante invenção supostamente mede quanto leite materno há no peito da mãe antes e depois da mamada, fazendo inclusive gráficos sobre a produção materna de leite. No vídeo promocional da empresa, afirma-se que “a última grande questão sobre o aleitamento materno foi respondida”. Realmente, a maioria das mães tem muitas dúvidas sobre o fato da sua produção de leite ser suficiente ou insuficiente para os seus bebês. Mas seria esta uma dúvida natural, inerente às mães lactantes? Ou será que essa dúvida foi plantada no coração delas por uma indústria que precisa vender “complemento” de leite artificial indiscriminadamente, a todos os bebês, como se todas as mães fossem incapazes de alimentá-los exclusivamente com o leite materno?

Eu mesma fui uma mãe que teve enormes dificuldades na amamentação (como, aliás, já relatei aqui nesse blog, . Por isso, digo por experiência própria: Uma mãe que está lutando para amamentar o seu filho já se sente insegura sobre a sua capacidade de produzir leite materno para o seu filho. Um aparelho que “meça” quanto leite ela tem “armazenado” no peito provavelmente a tornará cada vez mais ansiosa e insegura. Essa mãe precisará sim de acesso a informação correta, que lhe diga que o seio materno não é um mero “armazém” de leite. Pelo contrário, a maior parte do leite que o bebê de fato ingere durante a mamada, não estava “guardada” no peito da mãe, esperando para ser consumida, conforme o leite em pó estocado na lata. A maior parte do leite que o bebê ingere é produzida durante a mamada, pois é a sucção do bebê no seio que ativa os hormônios necessários para que o organismo da mãe inicie a “fabricação” o leite. Mas é claro que não interessa à indústria (seja ela fabricante de leite em pó ou do tal “Milk Sense”) que as mães saibam disso, pois, nesse caso, ninguém compraria os seus produtos.
Ao refletirem sobre os inúmeros produtos que hoje são vendidos como se fossem indispensáveis às crianças, os autores Martha e William Sears, disseram que:
“Quando passeamos por uma loja infantil, eu e minha esposa nos perguntamos como pudemos criar nossos oito filhos sem tantas dessas coisas: assentos infantis de plástico, babás eletrônicas, balanços mecânicos, berços que balançam, e todos os equipamentos high tech que prometem (por um alto preço) tornar os cuidados com bebês mais convenientes… à distância. (…)
O mercado de coisas para bebês é grande, e os pais que desejam sempre o melhor para os seu filhos, sempre estão prontos a abrir o talão de cheques ou entregar o cartão de crédito.
Aqui vai nosso conselho sobre equipamentos para bebês, materiais de estimulação infantil, e todas as coisas que enchem as prateleiras das lojas infantis por aí: escolha o HIGH TOUCH (muito toque) ao invés do HIGH TECH (muita tecnologia). O melhor brinquedo de todos para um bebê é outro ser humano.” (2001, p. 12)
Mas, infelizmente, a sociedade ocidental parece valorizar muito mais o “high tech” do que o “high touch”. Somos pródigos na invenção de aparelhos tais como berços, carrinhos, assentos e outros, desenhados especialmente para deixar os bebês longe dos braços dos adultos. Desde o momento em que recebem seu recém nascido, os pais imediatamente são admoestados com conselhos para não o pegarem “muito” no colo, se não ele ficará “mal acostumado”. Talvez por isso, a cada dia surjam mais e mais “assentos infantis” destinados aos bebês desde a mais tenra idade.
Dia desses deparei-me com a “CADEIRINHABUMBO” , cujo site oficial do fabricante afirma que “Assim que o seu bebê puder levantar a própria cabeça, você poderá sentá-lo na Bumbo Floor Seat. A cadeira tem um design técnico que dá suporte à postura do bebê, permitindo que ele interaja com o ambiente”. Ou seja, pelo site, presume-se que bebês ainda muito novinhos já devam ficar longe do colo dos adultos. Ele apenas sustenta a cabeça, não consegue ainda sentar-se sozinho, mas pode ser mantido sentado amarrado numa cadeirinha, com a finalidade de “interagir” com o ambiente. Na cadeirinha, ele não poderá mover o seu corpo de acordo com seus próprios instintos ou necessidades, não conseguirá rolar ou arrastar-se (atividades naturais de um bebê antes de andar, e essenciais ao seu desenvolvimento neuromotor). Então como, exatamente, ele poderá interagir com qualquer coisa?

Como se não bastasse esta cadeirinha, em seguida descobri a existência de outra, a “IPAD BABY SEAT” . O seu fabricante já é bastante conhecido de mães e bebês, e já havia lançado anteriormente assentos similares a este. Eu mesma adquiri um dos tais assentos, a “cadeirinha vibratória”. Animada com os relatos de amigas que acompanhava na internet, comprei a cadeirinha que prometia o milagre de acalmar os bebês, e fazê-los dormir em poucos segundos. Aqui em casa, foi um ledo engano. Meu filho jamais dormiu por um segundo sequer na tal cadeirinha; detestava sempre que o tal modo “vibratório” era ligado e protestava a plenos pulmões quando isso acontecia. Porém, se eu o pegasse no colo e o colocasse no sling, ele se acalmava e adormecia em poucos minutos. Para mim, esta foi uma demonstração muito clara de que nada substitui o contato do bebê com outro ser humano. Talvez alguém argumente que não posso usar apenas o meu filho como parâmetro para dizer que as tais cadeirinhas são desnecessárias, e o colinho da mamãe (ou de algum outro adulto carinhoso e disponível) é muito melhor para o bebê. Por tanto, reforço meu ponto de vista com as palavras do Dr. James Kimmel:
O bebê humano é uma criatura desamparada ao nascer. Ele é praticamente imóvel, não pode engatinhar, andar ou falar, além de ser muito limitado em sua habilidade de agir com um propósito. Diferente de outros primatas, ele não pode nem mesmo pendurar-se à sua mãe. Ele precisa ser carregado de um lugar ao outro. 75% do seu cérebro desenvolve-se após o nascimento. E ele não sobrevive sem o esforço de outro ser humano. Ele precisará de anos de desenvolvimento, até que possa cuidar de si mesmo. O desenvolvimento desamparado e imaturo do bebê exige uma fonte de cuidado. A natureza providenciou uma fonte para suprir essa necessidade – a mãe humana.”

O fato é que os bebês humanos nascem “incompletos”. Até os 3 anos de idade o seu sistema nervoso central ainda está em formação. E o contato com outro ser humano será de essencial importância para essa formação. Ficar amarrado a um assento de plástico, assistindo a DVDs “educativos”, ou “brincando” com um tablet simplesmente não proporcionam ao bebê os aquilo que o seu cérebro necessita para desenvolver-se. Mas, em oposição, ficar no colo da mãe e/ou de outros adultos amorosos, sentindo a pele, o olhar e a voz deles, é o mais poderoso estímulo ao desenvolvimento dos bebês mais novinhos (e para os mais “velhos”, de 1 ou 2 anos de idade também). É tudo o que a natureza, em milhares de anos de evolução, preparou para os bebês. Ou, como dizem Martha e William Sears: Então, deixe seu bebê enriquecer suas experiências a partir da paisagem em constante mudança, que ele vê enquanto você o carrega nos seus braços. São os relacionamentos, e não as coisas, que desenvolvem a inteligência do seu bebê.” (2001, p. 12)
Não bastassem tantas novas “maravilhas” tecnológicas aqui apresentadas, ainda tenho ainda que abordar o último dos absurdos que vi por aí. Trata-se da “PAPINHA EM SACHÊ” . Não basta a indústria de alimentos ter feito de tudo, ao longo do último século, para convencer às mães, demais familiares e aos pediatras que o leite materno é “fraco” em comparação ao maravilhoso leite em pó enlatado, e com isso contribuir para o desmame precoce quase universal na sociedade ocidental. Pois, um dia (a partir dos 6 meses de idade) os bebês passam a ingerir novos alimentos, além do leite. E se os bebês começassem a ingerir apenas alimentos naturais (tão naturais quanto o leite materno) tais como frutas verduras e legumes, a indústria perderia um belo mercado consumidor. E um mercado consumidor que representa não apenas o presente, mas também o futuro. Assim sendo, a indústria processa esses alimentos, os enlata, os envasa (antigamente, lá nos primórdios, em vasilhames de vidro) e agora... também os “ensaca” em sachês de plástico! E, ao fazê-lo propagandeia sobre o quanto o seu produto é prático, pois os bebês podem consumi-lo sozinhos ou, nas palavras do fabricante, com “muito mais independência”, conforme as necessidades dessa “nova geração”. Não importa que a propalada nova geração esteja consumindo alimentos artificiais super processados desde bebezinhos, quando deveriam estar desenvolvendo o seu paladar e a mastigação de forma adequada. Não importa que a nova geração talvez nunca venha a reconhecer a forma, o cheiro e o paladar de uma fruta “in natura”, por sempre tê-las visto processadas em saquinhos. E, claro, a obesidade infantil (e adulta) que assola a moderna sociedade ocidental não deve ter nenhuma relação com o fato de as crianças sempre haverem consumindo alimentos artificiais desde a mais tenra idade, não é mesmo?

Assim como nos tais produtos destinados a “auxiliar” na amamentação, que já abordamos aqui, as embalagens do leite artificial, das bebidas lácteas para bebês e das papinhas artificiais para bebês também contém uma advertência por escrito. Algo como “O Ministério da Saúde adverte: o uso desse produto pode ser prejudicial à amamentação, e não deve ser fornecido antes dos 6 meses de idade”. Mas, afinal de contas, ninguém lê rótulos e embalagens de produtos alimentícios. Pouco importa o que o Ministério da Saúde diz. E se aquela papinha industrializada, embalada miraculosamente no tão higiênico vidrinho ou sachê, já está disponível, por que ir pra cozinha preparar papinhas caseiras? E se a tal papinha industrializada é tão macia e homogênea que o bebê nem precisa mastiga-la, não há “problema” algum em dá-la para bebês menores de 6 meses, já que eles não vão se engasgar. A tentação para as mães muito atarefadas, sobrecarregadas ou simplesmente mal informadas e/ou pouco esclarecidas, é realmente gigantesca. Tão gigantesca quanto os possíveis malefícios de uma introdução alimentar precoce e mal feita é para o bebê.
Enfim, gostaríamos de dizer que o seu filho, e todos os outros bebês humanos, não precisam do leite artificial nem dos milhares de apetrechos que o acompanham; nem de cadeiras e assentos de plástico; nem de alimentos artificiais tão processados que podem ser colocados em sachês.
Segundo o Dr. James Kimmel, tudo o que os bebês precisam é de ternura. E esta não pode ser oferecida pelas quinquilharias à disposição para o consumo nas lojas de produtos infantis.
“Numa sociedade onde os bebês vivem e desenvolvem-se sem a presença e a ternura humana das mães, alguns bebês, se não a maioria deles, tornam-se seres humanos diferentes daquilo que deveriam ser. Eles precisam se adaptar aos substitutos da maternagem natural: leite artificial, berços, berços, carrinhos de bebê, objetos de estimação e cuidadores substitutos. Ao fazê-lo eles são, como os adultos, diferentes das pessoas que se desenvolveram na relação com uma mãe cuidadora. Crianças cuidadas de maneira imprópria e pouco acarinhadas crescem sem a internalização da ternura.”
Se você por acaso estiver preparando o enxoval ou o famoso quartinho do seu bebê, poupe o seu rico e suado dinheirinho. Tudo o que é realmente essencial e insubstituível para o bebê, a natureza já providenciou para ele, há milhões de anos: O leite materno, bem como a pele, o toque, o calor, a voz e o olhar da mãe (e de toda a família). Já está tudo aí, em VOCÊ. É tudo de graça, basta fazer o bom uso, sem reservas. O seu amado bebê lhe agradecerá por toda a vida!
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [*]
Sears, W. & Sears, M. (2001). The Attachment Parenting Book: a commonsense guide to understending and nurturing your baby. Little Bown and Company, New York.
Kimmel, James. “The Human Baby”. Disponível em: http://www.naturalchild.org/james_kimmel/human_baby.html
[*] tradução nossa dos trechos citados na bibliografia original.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

ALEITAMENTO MATERNO NÃO É “MODINHA”!


ALEITAMENTO MATERNO NÃO É “MODINHA”!
Cara Mariana Reade [1], aqui fala uma mãe que precisou dar complemento de leite artificial (LA) pro filho. Precisou fazê-lo porque, aos 16 anos de idade, cometeu a suprema burrice de se submeter a uma mamoplastia redutora nos seus seios. E depois, aos 33 anos de idade,  como consequência, não pôde amamentar o seu bebê. Se não existisse LA, meu filho teria morrido de fome, pois eu não tinha "pouco" leite, eu praticamente não tinha leite nenhum, devido à tal cirurgia, que mutilou minhas mamas para sempre.
Sim que bom q existe LA! Se ele não existisse, crianças como o meu filho, crianças cujas mães tivessem falecido; ou cujas mães não pudessem amamentar por motivos graves de saúde (mães soropositivas, por ex) ou até mesmo pequenos bebês adotados (é possível uma mãe adotiva amamentar através de relactação com sonda, mas nem todas conseguem)... bom, sem o LA, talvez esses bebês que citei morressem de fome.
Mas vale lembrar que esses casos são a exceção, não são de forma alguma a regra! A imensa maioria das mães (salvo, talvez, casos tão graves como os que citei) não apenas pode, como DEVE fazer aleitamento materno exclusivo até no mínimo os 6 meses de vida do seu rebento. Isso não é "achismo", nem muito menos "modinha". É recomendação cientificamente embasada, feita pela Organização Mundial de Saúde. Curiosamente, a OMS, ou nenhum outro órgão científico sério, aponta o aleitamento materno como “moda”. Mas a revista para a qual você escreve, assim intitulou o aleitamento materno... e na página ao lado, publicou um anúncio de LA! Mera “coincidência”, com certeza!
Se o LA existe, ele deve ser usado nos raros e poucos casos das crianças que realmente precisam muito dele, e não como complemento dado a todos os bebês apenas porque eles choram. O choro é a forma de comunicação natural do bebê. Na verdade, é a única forma de comunicação de que ele dispõe. Por tanto, bebês choram como forma de comunicar todas as necessidades que sentem: sono, fome, cansaço etc. E, sobretudo, de comunicar o desemparo [2] que sentem, visto que os bebês têm uma enorme necessidade de contato físico, mas a sociedade ocidental, em oposição ao que a evolução natural tem feito ao longo de milhares de anos, recentemente decidiu que isso não é uma necessidade, deu ao desamparo o nome de “manha”, e decretou que os bebês devem ser mantidos longe do colo de suas mães, lugar ao qual pertenceram por séculos, a fim de não ficarem “mimados”.
Uma mãe que interpreta todo e qualquer choro do bebê como sendo "fome", ou "cólica", está muito mal informada, devo dizer. E ela não precisa de conselhos estúpidos tais como dar "complemento" de LA apenas para fazer o bebê parar de chorar. Ela precisa de conselhos que a façam compreender a natureza do comportamento do bebê, que a estimulem a oferecer colo, carinho, amor, peito e LEITE MATERNO em livre demanda, atendendo aos pedidos do bebê. Se a mãe e o bebê encontrarem dificuldades reais na amamentação (e elas são inúmeras, desde rachaduras e fissuras no seio, pega incorreta do bebê, mastite e diversas outras possíveis) também não devem ser orientados a simplesmente dar complemento de LA. Praticamente todos os problemas e dificuldade iniciais no aleitamento materno podem ser resolvidos com medidas simples, que a mãe poderá aprender se procurar ajuda num Banco de Leite Humano. A rede de BLH do Brasil é uma das maiores (se não a maior) do mundo, e lá qualquer mãe, que esteja enfrentando qualquer tipo de dificuldade com a amamentação, poderá obter ajuda num serviço público, gratuito, especializado, e de altíssima qualidade. Mas isso a revista para a qual você escreve também não divulgou. Será, talvez, porque necessita dos anúncios pagos pelos fabricantes de LA?
                Enfim, Mariana Reade , se a sua coluna se propõe a dar voz ao bebê (o que aliás é uma proposta louvável, visto que infância, em sua raiz, significa “sem voz”), talvez você tenha se equivocado ao interpretar o choro, essa poderosa VOZ do bebê. Um recém-nascido que chora não está pedindo uma mamadeira de LA. Se ele pudesse falar com palavras, além de falar através do seu choro e de toda a sua expressão corporal, penso que talvez ele lhe dissesse o seguinte:
                “Por favor, acolha-me com amor! Eu fui feito para os seus braços, tome-me neles! Deixe que eu faça do seu colo o meu ninho. Deixe que a minha pele sinta a sua pele. Deixe que o meu olhar encontre o seu olhar. Deixe que as minhas mãos toquem a sua mão. Deixe que os meus lábios recebam o seu leite, como a mais profunda prova de amor, mamãe! Quando eu crescer, não vou me lembrar conscientemente desses momentos que passamos juntos, mas você, mamãe, se lembrará de cada um deles. Cada noite acordada, dando-me de mamar, será a sua mais preciosa lembrança. E, embora eu não tenha esta memória na minha consciência, esta prova de amor que você me deu, tão gratuitamente, ecoará para sempre na minha capacidade de amar a mim mesmo e ao próximo.”
[1] A jornalista citada escreveu uma coluna na revista “Pais e Filhos”, em que dizia que no Brasil há uma “modinha de amamentar”. A coluna foi publicada em novembro/2012 no endereço eletrônico http://revistapaisefilhos.uol.com.br/blogs-e-colunistas/bebe-blogando/ha-um-ano-atras-leite-em-po?fb_comment_id=fbc_730315286996102_7579107_730427123651585#f24e6ff204. Porém, assim que choveram textos de internautas criticando duramente (e com toda a razão) a coluna, a revista retirou-o de circulação e publicou uma “errata” (http://revistapaisefilhos.uol.com.br/na-midia/erramos).
[2] Não uso aqui a palavra “desamparo” por mero acaso. Desde a sua fundação, a psicanálise nos esclarece sobre o “desamparo inicial do lactente”.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A SEMENTE DA VIOLÊNCIA


(por Dr. Antônio Marcio Junqueira Lisboa) [*]

A sociedade se interroga querendo saber o porquê da violência contra um pobre índio, queimado por um grupo de adolescentes de classe média alta. Infelizmente, tal como soubemos pelos jornais, queimar mendigos por brincadeira ou perversidade é uma ocorrência relativamente comum, em algumas capitais. Há poucos dias três rapazes foram entregues pela polícia aos populares, que, após tentarem linchá-los, acabaram queimando-os vivos. Em São Paulo, Rio, Porto Alegre pais são assassinados pelos filhos, sem nenhuma razão aparente ou atrás de herança. Adolescentes, sem habilitação, em carros importados, matam pessoas, sob a vista grossa dos pais, que se desculpam dizendo não conseguir controla-los.
Em todas as funções ou profissões, encontramos marginais: deputados que roubam, vendem-se ou defendem privilégios inaceitáveis; juízes venais; médicos cobrando “por fora”; sacerdotes abusando de crianças; advogados desonestos; policiais que ficam milionários à custa de achaques e mutretas; policiais mancomunados com delinquentes que ameaçam a população e matam por motivos fúteis; militares de altas patentes que enriquecem à custa de licitações fraudulentas; políticos que entram para o governo pobre e saem riquíssimos; pessoas de alta sociedade envolvidas com tráfico de drogas; cidadãos ditos respeitáveis comprando e vendendo meninas, estimulando a prostituição; funcionários usando seus cargos para enriquecer ilicitamente.
Entretanto, o pior de tudo é a violência encoberta, aquela que ocorre no lar, onde se contatam espancamentos, maus tratos, estupros, sem punição. A doméstica, que representa quase metade dos casos de violência sob suas diferentes apresentações, tem enorme importância em sua gênese e perpetuação.
Os fatos são registrados pela mídia de todos os países, pois a violência é universal. Infelizmente, está sendo combatida de forma errada. As ações advogadas, que chamamos de curativas, são dirigidas ao controle dos fatores predisponentes, ou mesmo dos desencadeantes, nunca contra os determinantes, mais importantes, e que deveriam ser realmente combatidos.
Há mais de dez anos, em todos os inúmeros fóruns de que tenho participado, tenho denunciado esse erro de direção, sem conseguir sensibilizar as autoridades que continuam a acreditar que, melhorando a situação socioeconômica, acabando com a miséria, o racismo, a impunidade, o narcotráfico, treinando policiais, construindo prisões e centros de recuperação, matando marginais, denunciando agressores, infratores, delinquentes, criando conselhos e delegacias especializadas, iremos conseguir controlar ou diminuir a violência. Ledo engano. São medidas paliativas. Afinal, tudo isso vem sendo tentado há quase um século. E os resultados? O clima de terror cresce assustadoramente. Assaltos, sequestros, homicídios, estupros, roubos fazem parte do dia a dia. Sobressaltada, trancada em casa – algumas são verdadeiras fortalezas – sem poder sair à noite, a população inerme não sabe mais o que fazer. Infelizmente, nem os órgãos de segurança, que confessam abertamente sua impotência em controlar a situação.
A semente da violência é plantada na criança antes dos seis anos. Franco Vaz já disse isso em 1914. Existe uma fórmula segura para se criar delinquentes, marginais, criminosos, corruptos. Basta atuar sobre a criança: não lhe dê atenção, ignore-a, humilhe-a e provoque-a; grite um bocado. Mostre sua desaprovação por tudo o que ela fizer; encoraje-a a brigar com os irmãos, os colegas e amigos; brigue bastante, principalmente no sentido físico, com seu parceiro conjugal, na frente das crianças; ameace, grite e bata bastante nela; engane-a, minta-lhe. Seja também permissivo. Ensine-lhe que o mundo é dos espertos, vangloriando-se junto a eles dos atos de que deveria se envergonhar.
E se isso não resolver, coloque-a em frente à televisão e dê-lhe carta branca para assistir a todos os espetáculos violentos possíveis. E também às novelas, em que a desestruturação familiar é mostrada como um ganho social, e as safadezas, as imoralidades e os atos de atentado ao pudor são mostrados como fatos moralmente aceitáveis. Essas medidas são infalíveis para plantar na criança, seja ela pobre, rica, branca, negra, amarela, brasileira, americana, inglesa, japonesa, a semente da violência.
Daí pra frente, bastará encontrar um terreno fértil para que ela cresça, germine e dê os seus frutos – a truculência, os furtos, os assaltos, os sequestros, as torturas, os estupros, a corrupção, a agiotagem.
Até os seis anos a criança não é violenta. Nosso grande trabalho será o de combater os fatores responsáveis pela implantação dessa semente. Sua existência, ou não, explica por que um motorista leva uma fechada e não se importa, e outro desce do carro, ameaça, briga e até mata. Ou por que um taxista encontra uma pasta com dinheiro, procura o dono e a devolve; e outro, mesmo sabendo quem é o dono, não a devolve e ainda faz uma festa em comemoração.
Toda ação deverá ser dirigida no sentido de proteger a criança dos fatores que possam da normalidade no início de estruturação de sua personalidade, do seu caráter, da sua moral. Ou seja, antes dos dois anos. Um dos mais importantes deles é a privação materna. Nenhuma criança deveria ficar um dia sequer além do necessário para se conseguir uma substituta, o que implicaria profundas mudanças no sistema de adoções.
Como esses exemplos, inúmeros outros conhecidos e infelizmente desconsiderados em sua importância pelos especialistas no combate à violência. A tarefa será árdua, mas, a meu ver, menos do que acabar com a impunidade e, além disso, muito mais barata. Por que, em vez de continuarmos tentando acabar, sem resultado, com os delinquentes, não passamos a trabalhar no sentido de formar bons cidadãos?

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[*] O presente texto foi extraído do livro “Seu filho no dia a dia: dicas de um pediatra experiente”, editora Record. O livro é uma coletânea dos textos que O Dr. Lisboa publicava na sua coluna no jornal no “Correio Brasiliense”, na década de 1990. O livro tem textos com dicas sobre todos os tipos de dúvidas mais comuns dos pais, ao educarem e cuidarem dos seus filhos: alimentação, desempenho escolar, comportamento infantil (desde sexualidade, até agressividade) e etc. Se tem alguma coisa na qual o Dr. Lisboa é radical, é ser radicalmente CONTRA bater em crianças! Eu tive a felicidade e a honra de ter sido paciente dele quando era criança. AMODORO!

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

como criar um futuro Sociopata
(por Dr. James Kimmel, Ph.D.)

“As sociedade para prevenção da crueldade contra bebês e crianças se preocupam apenas os tipos mais grosseiros de abuso. Nossa sociedade precisa ser ajudada a ver a gravidade de crimes contra a infância que hoje são considerados um tratamento normal” (Jean Liedloff, The Continuum Concept1)
Definições: (do dicionário Webster)
Antissocial:
  1. Não sociável
  2. Perigoso ao bem estar de outras pessoas
Associal:
  1. Evita o contato com outras pessoas
  2. Egoísta 
Personalidade Psicopata:
  • Pessoa caracterizada por instabilidade emocional, falta de julgamento social, perversão e comportamento impulsivo (muitas vezes criminosp), inabilidade para aprender com a experiência, sentimentos amorais a e associais, e outros defeitos de personalidade.
Sociopata:
  • Uma personalidade psicopata com comportamento agressivo e antissocial. 
Nós vivemos em uma sociedade que rapidamente está se tornando uma nação de sociopatas. A razão disso não é a perda de valores familiares. Nem é a consequência de pais que sejam eles mesmo indivíduos sociopatas ou emocionalmente perturbados. Ao contrário, a causa é forma convencional, porém anormal, pela qual criamos as nossas crianças. Desde o momento do nascimento, as crianças são privadas daquilo que os seres humanos evoluíram para possuir – o cuidado natural e prolongado da sua espécie. Nós – pais, comunidade e governo – não cumprimos o compromisso a que as crianças têm direito desde o seu nascimento. Nós trazemos crianças ao mundo – mas não aceitamos a responsabilidade de cuidarmos delas.
Em nossa falta de compromisso para com as nossas crianças, nós as privamos do apego e contato humanos que é sua “expectativa” genética e biológica ao nascerem. Nós lhes negamos a experiência biológica de maternagem que é a base da socialização humana, e, comumente, dividimos os seu cuidados com estranhos que têm ainda menos compromisso para com elas do que nós mesmos. Por não serem a nossa prioridade, o melhor que alguns de nós podem fazer é lhes dar é “tempo de qualidade”. Numa nação de indivíduos onde a maior prioridade é o “eu”, nós consideramos o cuidado para com os outros, inclusive com os nossos próprios filhos, como um autosacrifício e perda do “eu”. Nós pedimos por mais e melhores creches, mas não pelo tipo de ajuda que nos possibilitaria ficar em casa e cuidarmos dos nossos filhos. Tampouco nosso governo oferece auxílio financeiro, como outras nações fazem, que permita a ao menos um dos responsáveis ficar em casa para cuidar do bebê. (Nota da blogueira: nesse ponto acho q seria importante incluir uma nota explicado que alguns países, como EUA, não dão nenhum tipo de licença maternidade, enquanto outros europeu concedem licenças de até 2 anos).
O fato de uma nova vida humana não ser nossa prioridade, indica que a vida humana em si não é nosso principal valor. A forma pela qual respondemos aos nossos bebês, mesmo quando os valorizamos, sugere que não sabemos como lhes transmitir a noção de que são realmente valiosos. Simplesmente não somos amigáveis para com a nova vida que criamos.
A forma como cuidamos de bebês e crianças é, de fato, sociopata de uma forma agressivamente antissocial e associal. É uma prática comum forçar os bebês longos períodos de tempo sozinhos em seus berços, a dormirem sozinhos e ignorar o choro deles, para que eles nos deixem em paz e aprendam a aceitarem ficarem sós. Dar palmadas, bater e castigar crianças é um método amplamente aceito de ensinar as crianças a se comportarem. Se tratássemos outro adulto da forma como normalmente tratamos nossas crianças, estaríamos sujeitos a processos judiciais. Impor a própria vontade sobre alguém é considerado um crime em nossa sociedade. No entanto, em relação às crianças, é algo ativamente encorajado. Donde só podemos concluir que crianças não são vistas como pessoas.
Em nosso esforço para fazer as crianças se comportarem como nós desejamos, utilizamos métodos de controle que são culturalmente condenado como formas de violência. Baseados na nossa antiga crença tradicional de que as crianças são uma espécie de propriedade, nós as tratamos como objetos a serem manipulados e moldados na direção que for mais confortável para nós.
Peter e Judith Decourcy expressaram nossa percepção social sobre as crianças na seguinte passagem:
“De muitas formas, não pensamos nas crianças como pessoas com os mesmo direitos e privilégios dos adultos. Punição física e humilhação psicológica  são considerados métodos aceitáveis para se controlar o comportamento das crianças. Crianças comumente são punidas com uma variedade incomum e engenhosa de métodos, que não seriam tolerados na mais retrógrada prisão adulta, ainda assim os pais não estão sujeitos à censura social ou interferência legal. É como se as crianças fossem objetos, propriedades dos pais, para serem usadas conforme eles queiram.” 2
“O ponto mais estranho e irreal de nossas crenças sobre a criação de filho é que nosso comportamento antissocial para com elas é supostamente destinado a torna-las pessoas sociáveis e cuidadosas. Estamos cegos ao fato de que a relação entre pais e filhos é a primeira e mais importante relação social, que modela a interação da criança com os outros. Nossas crianças são influenciadas em seu desenvolvimento principalmente por aqueles que somos em nosso relacionam com ela, não por aqueles pensamos ou gostaríamos de ser. Como disse Theodore Schwartz, ‘o importante na transmissão cultural não é tanto o que ensinamos ou não às crianças, mas a forma como as coisas se passam com elas, e as atitudes das pessoas com quem mais interagem’” 3
Nós agimos em relação às nossas crianças de formas similares às de uma personalidade sociopata. Nos comportamos em reação a elas de forma que frequentemente é emocionalmente instável, perversa e impulsiva. Ao lhes negar amor e afeto, ao puni-los para que se comportem, nos comportamos de modo amoral e associal (às vezes criminoso). Em nossa crença de que a forma como nos comportamos para com eles os tornará indivíduos sociáveis é desprovida de juízo social. Nossa relutância em mudarmos as formas de nos relacionarmos com as crianças, embora sejamos continuamente confrontados pelo nosso fracasso em mudar o comportamento delas, indica que nós (enquanto nação, bem como enquanto pais) somos incapazes de aprender com a experiência. A seguirmos nossa forma tradicional de puericultura e criação de filhos, involuntariamente estamos treinando nossos filhos a se ternarem sociopatas.
Nem todos nós nos comportamos como sociopatas. A maioria de nós não é de criminosos. Mas muitos de nós somos sociopatas na forma como nos relacionamos com nossos filhos. Não por que sejamos indivíduos fora do normal. Nós somos o normal. Somos pais saciopatas devido às nossas tradições de criação de crianças, às nossas experiência enquanto crianças, à nossa cultura, ao nosso governo e a muitos de nossos especialistas em cuidados com as crianças, que nos encorajam a sê-lo.

Liedloff, Jean. Continuum ConceptReading, MA: Addison-Wesley Publishing Co., 1986. 
2 Decourcy, Peter and Judith. A Silent Tragedy: Child Abuse in the Community. New York: Alfred Publishing.  
3 Schwartz, Theodore, "Socialization as Cultural Transmission." Berkeley: University of California Press. As quoted in: Nanda, Serena, Cultural Anthropology, Third Edition. Belmont, CA: Wadsworth Publishing, 1987, p.131.

Tradução: Taicy Ávila
Revisão final: Andréia Stankiewicz

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

REGRAS FAMILIARES: O SEGREDO DA PAZ

(por Elizabeth Pantley, educadora.)

Até mesmo a criança mais novinha pode entender o que é uma regra, que pode ser um simples ritual diário, como “Escovamos os dentes antes de dormir” ou “Levamos os pratos para a pia depois que comemos”. Uma regra também pode ser um guia para o comportamento, como “Nós não batemos nas pessoas”. As regras funcionam melhor quando são breves, simples e quando são seguidas de modo constante.
A primeira coisa que você precisa fazer é decidir sobre as regras prioritárias. Um número excessivo de regras complica a vida de todos. Além disso, quando numerosas demais, elas são facilmente esquecidas, de modo que é melhor determinar as dez mais importantes, ou algo em torno disso. O melhor modo de descobrir quais são as dez regras mais importantes é fazendo uma lista dos problemas comportamentais que mais o incomodam. Ao ver quais são eles, você saberá quais são os mais importantes e que devem ser abordados com uma regra formal.
Depois que você tiver feito uma lista dos principais problemas de comportamento, traduza cada um em uma regra clara e simples. Por exemplo, se seus filhos são rudes demais uns com os outros e costumam empurrar, bater, chutar, puxar os cabelos ou brigar uns com os outros ao ponto das lágrimas, crie uma regra simples de entender que abranja todos esses comportamentos, como “Não machucamos ninguém”.
Enquanto você cria as regras, garanta que serão possíveis de colocar em prática. Esta não é uma lista de cada coisa que você desejaria; ela diz respeito aos comportamentos prioritários, e são aquelas que você está disposto a colocar em prática.
Uma ótima maneira de proclamar as novas regras é publicá-las na forma de um pôster. Use cores alegres e enfeites para torna-lo mais alegre e depois o pendure na parede, para que todos o vejam e se lembrem das regras.
Outra vantagem de regras específicas por escrito é que elas trazem em si regras implícitas adicionais. “Não machucamos ninguém” pode ter sido criada para prevenir brigas físicas entre seus filhos, mas também implica a prevenção de sofrimento emocional. As regras refletem a personalidade e cultura de uma família – os valores e moral que guiam todas as suas ações e estabelecem o que é mais importante em sua unidade familiar.


(Extraído do livro “Soluções para disciplina sem choro: maneiras gentis para incentivar o bom comportamento sem queixas, birra e lágrimas”. Ed. M Books, pp. 102- 104)

DISCIPLINA: A PUNIÇÃO FÍSICA


Por Dr. T. Berry Brazelton (pediatra)
e Dr. Joshua D. Sparrow (psiquiatra infantil)
Palmadas e outras punições físicas interrompem o comportamento indesejado de uma criança assustando-a ou causando-lhe dor física, enquanto reafirmam o poder da maior força física de um adulto. Os adultos que receberam punições físicas na infância quase sempre parecem se lembrar como os pais eram poderosos e como eles se sentiam assustados. Geralmente também lembram como tinham raiva e como respeitavam ou admiravam pouco seus pais nessas ocasiões.
Com muito menos frequência esses adultos se lembram porque apanhavam ou que lição deviam ter aprendido. Uma mulher crescida, agora mãe, afirma, “Lembro-me exatamente com o que apanhei e onde, mas não me lembro porquê. Tudo o que lembro é como me senti embaraçada, como fiquei com raiva de meu pai e como queria me vingar. Mas não aprendi nada.”
Quando os pais utilizam a violência para mostrar que são eles que mandam, estão dizendo para a criança “Sou maior do que você” e “Não respeito você”. Pode-se esperar que uma criança que é tratada dessa maneira se esquive de seus pais e se proteja em um casulo de raiva. Ela tende a perder o respeito pelo adulto e não levará a sério os ensinamentos morais dos pais que a ferem. Essa criança corre o risco de crescer sem consciência.
Em outras culturas, uma colher ou raquete de madeira é mantida perto, pronta para espalmar os traseiros das crianças que se comportam mal. Mesmo quando não são utilizados também são mencionados, quando necessário, como um lembrete das consequências a serem evitadas. Muitos pais nunca batem nos filhos. Eles simplesmente nos lembram do seu poder e intenção de fazê-lo. As crianças que podem incorporar essa ideia, imaginar como seria e decidir que o mau comportamento não vale a pena, podem nunca ter que vivenciar essa realidade. Mas esse método deixa a criança dependente de ameaças físicas para parar e pensar sobre o seu comportamento.
Os pais que foram criados com punições corporais tendem a continuar a tradição pela geração seguinte. Com frequência, eles o fazem a partir de um sentido de lealdade com seus pais e com a cultura ou por um sentido de dever de executar essa obrigação ou por falta de alternativas. Uma professora da pré-escola que conheço ouve os pais dizerem “Meus pais me batiam e não acho que tenha dado tão errado”. Para eles, ela responde “Você está errado. Você está bem apesar de ter apanhado!” Esses pais também podem ser incapazes de imaginar como uma criança se sente com a ameaça de agressão física pairando sobre ela.
No calor da hora, os pais que querem criar seus filhos de maneira diferente daquela com que foram criados ainda podem se descobrir recorrendo a reações familiares e profundamente arraigadas. Mas quando o fazem, tendem a ser dominados pela culpa. Aqueles que conseguem evitar as punições corporais têm mais probabilidade de ter sucesso se se preparam com outras respostas simples às quais podem recorrer quando há um mínimo de tempo para pensar.
Qualquer família precisará entender suas próprias tradições disciplinares (incluindo as punições corporais), deseje ela perpetuá-las ou adotar um novo método. Essas tradições merecem respeito, embora hajam linhas que não deveriam mais ser cruzadas. Certamente, os danos físicos são inaceitáveis sob quaisquer circunstâncias. Mas, e sobre a dor física transitória – como as palmadas e os tabefes? Ou a dor emocional, transitória ou não – como a vergonha, a humilhação, as críticas destrutivas, ou as comparações negativas com os irmãos, etc? Se disciplinar é ensinar, e a meta é a autodisciplina, então as respostas para essas questões são óbvias. Desse ponto de vista essas abordagens parecem, na melhor das hipóteses, míopes, e na pior, contraproducentes.
Com muita frequência, os pais batem numa criança quando estão ele mesmos fora de controle momentaneamente. Claramente, não há nada de positivo nisso a ser aprendido por parte da criança. Com muito menos frequência, os pais continuam calmos e de cabeça fria, adotando uma aplicação consistente das punições corporais.
Quando os pais adotam punições corporais, também dizem para uma criança: “Você terá que se comportar porque posso te pegar.” Essa mensagem não prepara uma criança para o dia em que os pais não estarão lá. No mundo violento da atualidade, não podemos mais nos permitir ensinar comportamentos violentos aos nossos filhos. Não podemos mais nos permitir discipliná-los sem lhes dar razões melhores e mais duradouras para assumirem a responsabilidade por seu comportamento.



(Trecho extraído do livro “Disciplina: o método Brazelton”, ed. Artmed, p 62.)

sábado, 27 de julho de 2013

Dica de leitura: livros do Dr. BRAZELTON sobre desenvolvimento infantil.

Olá pessoal!
Vejo sempre muitas mamães e papais por aqui com dúvidas importantes sobre o desenvolvimento e comportamento de seus filhos pequenos, então resolvi compartilhar essa dica de leitura com vocês. O Dr Brazelton é um importante pediatra americano, com uma extensa obra científica, e também dedicada ao publico leigo [pais]. Tem como coautor o Dr. Sparrow, renomado psiquiatra infantil. Ler qualquer livro do Dr. Brazelton vale muito a pena, mas eu indico começar por esse aqui: "3 a 6 anos: momentos decisivos do desenvolvimento infantil". Você pode encontrar a obra completa do Dr. Brazelton, publicada em português, na editora Artmed.

O livro é dividido em duas partes. Na primeira, ele cria quatro personagens fictícios, cada um demonstrando crianças com temperamentos diferentes: um líder nato, uma hiperativa, uma menina popular, uma criança tímida. Esses personagens perpassam toda a primeira parte do livro, onde cada artigo é dividido pelas faixas etárias: 3,4,5 e 6 anos de idade. Ao longo desta primeira parte, ele vai descrevendo e analisando o comportamento dessas crianças nos desafios comuns de cada fase, e mostrando como os seus pais podem agir para melhorar o relacionamento com os filhos, ajudando-os a construir uma disciplina positiva, boa auto estima e aprendizagens importantes.
Na segunda parte do livro, os diversos artigos abordam uma infinidade de temas que interessam aos pais, tais como: As relações familiares (adoção, divórcio, relações entre irmãos, avós e outros). A sexualidade infantil. A escolha e entrada na escola infantil. Os problemas comuns de comportamento (choro, birras,mentiras, medos, pesadelos etc), com enfoque sempre na disciplina positiva, sem violência. As crianças com necessidades especiais. O treino de toalete. A alimentação. E diversos outros temas, são tanto que seria impossível elencar  todos aqui.

O livro é valioso para pais e mães, sobretudo aqueles de primeira viagem, e que são inexperientes no convívio com crianças pequenas. E também para todos os profissionais que atuam com Educação Infantil, como fonte de apoio e orientação às famílias atendidas. Boa leitura!