SEJAM BEM VINDAS, MAMÃES!

terça-feira, 17 de abril de 2012

Os Riscos do Desfralde Precoce: um medico em defesa do treino de toalete mais tardio


(Por Dr. Steve Hodges, com Suzanne Schlosberg)
Você provavelmente já ouviu os argumentos em favor de começar cedo o treino ao toalete. Eles começam cedo na Europa! Bebês colaboram mais do que crianças de 3 anos! Fraldas são ruins para o meio ambiente! Talvez você já até mesmo lido estudos científicos concluindo que as crianças que começam o desfralde mais tarde têm mais chances de terem dificuldades.
Como urologista pediátrico especializado em treino ao toalete, eu lhes digo o seguinte: Crianças com menos de 3 anos não deveriam ter de lidar com o treino ao toalete, tanto quanto não devem cuidar das poupanças para pagar a faculdade. Escolas infantis que exigem que crianças com menos de 3 anos já estejam desfraldadas (como uma escola na Virgínia que deu uma suspensão à pequena Zoe Rosso, de apenas 3 anos e meio, por molhar demais as roupas ) estão prejudicando as crianças. E o treino de bebês, promovido por alguns autores, como Mayami Bialik em seu novo livro “Beyond de Sling”, é uma ideia maluca. A não ser que, como Bialik, você monitore o bebê 24 horas por dia, dê-lhe uma dieta vegetariana rica em fibras e não mande seu filho para a creche. As crianças precisam experenciar a eliminação de fezes e urina sem se preocuparem com expectativas de usarem o sanitário em idade tenra.
Não significa que crianças pequenas não possam ser treinadas para o uso de toalete. Com certeza elas podem. Mas conseguir fazer cocô no penico quando levada até ele não é o mesmo que saber reconhecer e interpretar os sinais do próprio corpo de que ele precisa evacuar.
Vamos acelerar dos dois para os três anos. É nessa idade que as crianças desfraldadas precocemente aparecem no meu consultório, com queixas de escapes de fezes e urina, infecções repetidas no trato urinário ou enurese noturna (molhar a cama à noite).
“Eu não entendo”, diz a mãe, “eu nunca a forcei, ela praticamente se desfraldou sozinha”.
            Eu acredito na mãe. Mas infelizmente esse é um quadro típico de crianças que são treinadas precocemente, e quanto mais precoce, tanto mais graves são os problemas. Eu vejo por volta de 100 crianças por semana em meu consultório, e metade delas têm disfunções de evacuação, tendo a maioria sido desfraldada antes dos 3 anos.
Para compreender os riscos do desfralde precoce, é importante compreender que praticamente todos os problemas de desfralde (vazamentos de fezes e urina, enurese noturna, infecções do trato urinário) estão relacionados ao fato de segurar cronicamente a urina, as fezes ou ambos.
Crianças (TODAS as crianças) não gostam de interromper suas atividades para ir ao banheiro. Uma vez que elas aprendam a segurar a urina e as fezes, que basicamente é a essência do treino ao toalete, elas tendem a segurar pelo maior tempo possível. Esse é um hábito perigoso. Toda vês que você contrai seu esfíncter para que não vaze urina, você cria uma resistência na sua bexiga. O quê acontece toda vez que você contrai seus músculos da bexiga? Exatamente o mesmo que ocorre quando você malha na academia. Eles se tornam mais espessos e fortes. Mas ao contrário de um bíceps, uma bexiga espessa é ruim. Ela tem reterá menos urina e perderá a sensibilidade. Quando uma criança segura o xixi, por meses e anos, a parede da sua bexiga se torna mais espessa, eventualmente a bexiga se torna tão forte e irritada que pode vazar sem que a criança perceba.
Segurar cronicamente as fezes (encoprese) um problema que é exacerbado nas crianças com dietas pobres em fibras, piora o estrago. Uma massa de fezes se forma no reto logo abaixo da bexiga, e pode estender o reto de 2 até 10 centímetros de diâmetro ou mais, tomando espaço na pélvis e fazendo com que a bexiga não consiga conter a urina. Além disso, os nervos que controlam a bexiga, e que passam por entre a bexiga e o intertino, ficam irritados quando o intertino está alargado, causando contrações involuntárias da bexiga – em outras palavras, causam escapes constantes.
            Embora ninguém poste no Facebook, “Meu filho molhou a cama de novo”, problemas com o treino de toalete são crescentes na nossa cultura. Consultas a médicos pediatras motivadas por constipação dobraram na última década, e consultas a hospitais pelo mesmo motivo quadruplicaram. Na idade de 7 anos, 8% das meninas já tiveram uma infecção do trato urináriofazendo parte de um milhão de consultas a médicos pediatras e 14% de todas as emergências em pronto socorros pediátricos. Além disso, cinco milhões de crianças molham a cama, incluindo cerca de 20% das crianças de 5 anos, 12% das de 6 anos e 10% das de 7 anos.
            Embora esses dados sejam robustos, acredito que tais número ainda são subestimados. Uma vez que os pais tendem a acreditar que problemas com o treino de toalete são normais, muitos não procuram ajuda médica para isso.
            Mesmo nos casos em que a ajuda médica é solicitada, muitas vezes a causa dos problemas com treino de toalete passa desapercebida. Muitos pais, e também muitos pediatras, acreditam que constipação equivale à defecação infrequente. No entanto, muitas crianças constipadas defecam diariamente, até várias vezes ao dia. Grandes massas de bolo fecal endurecido podem passar desapercebidas, pois as fezes mais moles podem passar por elas, dando a impressão de que a criança evacuou toda a massa. Foi isso o que aconteceu com Zoe Rosso, a garotinha que foi suspensa da pré-escola, e que agora é minha paciente. Zoe tinha uma rolha de bolo fecal do tamanho de uma maçã dentro do reto, porém o pediatra e também o urologista pediátrico não perceberam isso, pois não pediram exames de raio X.
Muitos estudos já publicados (inclusive um de nossa autoria, publicado em 2012 na revista “Urology”) mostram que quando se dissolve a rolha de massa fecal e previne-se a formação de novas massas, os vazamentos, infecções urinárias e enurese cessam. Nossos estudos apenas confirmaram os resultados de um estudo canadense, publicado nos anos 80. Isso demonstra cabalmente que as crianças com problemas de enurese eram severamente constipadas, embora mostrassem pouco ou até nenhum sinal disso, e que tratar da constipação resolveu a enurese e as infecções do trato urinário. (Vale lembrar que constipação significa a obstrução do reto por massas de bolo fecal, e não deixar de evacuar regularmente.)
A razão pela qual as crianças que foram desfraldadas aos 2 anos mostram mais problemas do que as crianças treinadas depois, em minha opinião, é o fato de que estas últimas puderam passar mais meses ou anos decidindo por si mesmas quando urinar ou defecar – antes que elas fossem maduras o suficiente para entender a importância de eliminar assim que sentissem vontade. Além do mais, a bexiga precisa desses 3 ou 4 anos de crescimento e desenvolvimento, e ter hábitos de eliminação livres (leia-se: fraldas) facilita o seu desenvolvimento máximo.
Os pais geralmente me dizem que seus filhos têm vazamentos por que “têm a bexiga pequena”, como se isso fosse congênito. Talvez a criança tenha uma bexiga pequenas, mas somente porque a sua capacidade foi comprometida pela sua constante contração.
Com qual frequência eu vejo uma criança que ainda usa fraldas e tem infecções urinárias recorrentes? Nunca. Com que frequência eu trato crianças recém treinadas no desfralde com infecção urinária recorrente? Todos os dias. Essas crianças são 25% dos meus pacientes. Isso não é mera coincidência, e demonstra muito claramente que o treino precoce do uso do toalete é prejudicial e perigoso. É impossível que crianças saudáveis, com desenvolvimento normal, que não sofram de constipação, e aprendam a usar o penico com 3 anos e meio de idade tenham enurese ou encoprese crônicas do que as crianças treinadas aos 2 anos e meio. Crianças que usam fraldas não constipam, muitas crianças em processo de treinamento de toalete o fazem. Cada ano de sem constipação, sem a exigências e regras para a evacuação – em outras palavras, usando fraldas – leva ao crescimento da bexiga; cada ano de contração para segurar os esfíncteres faz a bexiga encolher e se tornar mais irritável e hiperativa.
            Pense nisso: a terapia padrão para os vazamentos envolve dar-lhes laxantes e coloca-las de hora em hora no penico, tirando a decisão de quando evacuar de suas mãos.

Talvez você ainda não esteja convencido a esperar até os 3 anos pelo desfralde. Talvez você se pergunte: e sobre as pesquisas que mostram que é o treinamento de toalete tardio, e não o precoce, a causa das constipações e vazamentos?
            Bem, há uma grande falha nessas pesquisas. Seus autores não checaram, com exames de raio X, para ver se as crianças sofriam de constipação quando começaram a ser treinadas. Os arquivos da minha clinica mostram que, entre as crianças treinadas mais tarde, não é a idade em que começou o treinamento, e sim a constipação não diagnosticada, que está correlacionada aos problemas. Nós descobrimos que as crianças treinadas depois dos 3 anos geralmente começaram o desfralde mais tarde porque já eram constipadas (seus pais tentaram antes, sem sucesso).
            Então, se você está fazendo o treino de toalete com seu filho de 2 anos, porque a escola que você escolheu assim o exige, eu sugiro que você procure outra escol. Mandar uma criança de recém desfraldada para a escola apenas aumenta o risco de problemas de constipação, especialmente se as escolas não permitirem nem mesmo o uso de fraldas “pull ups”. Pense bem: você estará colocando uma criança de 3 anos num ambiente desconhecido, possivelmente pela primeira vez em sua vida, para local onde ela não terá membros da família por ao menos metade do dia. E você espera que a criança interrompa a professora durante a rodinha de história, e anuncie que precisa usar o penico, ou que ela saia do forte que ela está construindo com seus amiguinhos e vá sozinha até o banheiro. Seja quem for que ache que essa é uma boa ideia, certamente nunca pisou numa clinica de urologia pediátrica.
            Para piorar, essas crianças ainda são mal equipadas para lidarem com as políticas restritivas ao uso de banheiros que as esperam na escola primária e depois dela. Tenho incontáveis pacientes que desenvolveram a capacidade de segurar as fezes e a urina das 7:30 até as 16:30 – e desenvolveram sérios problemas de bexiga e infecções urinárias recorrentes por isso.
Crianças recém treinadas para o desfralde precisam de acompanhamento constante, não importa quanto tempo elas consigam permanecer secas, e quanto mais cedo você decide treinar uma criança, maior é a sua responsabilidade de checar e estimular de perto suas necessidades e hábitos de micção e evacuação. Crianças precisam ser lembradas de ir ao banheiro a cada duas horas. (E as pessoas que cuidas das crianças jamais deveriam apenas perguntar se elas querem ou precisam ir ao banheiro, pois a maioria das crianças responderá que não. É seu trabalho instruir à criança sobre quando ir.)
            Também é importante olhar como estão as fezes da criança sempre que você tiver uma chance (por sorte, a maioria das crianças esquece de dar descarga!). As fezes devem ser finas e/ou pastosas, como purê de batatas. As fezes amolecidas e aquosas, semelhantes à diarreia, indicam problemas. Fezes muito grandes e espessos são sinais de constipação.
            Você também pode ensinar seu filho a checar suas próprias fezes e relatar como elas são. (Sim, tudo isso parece nojento, mas é importante que as famílias falem sobre isso, e muitas crianças acham divertido falar sobre as próprias fezes.) Finalmente, tente manter acompanhamento sobre quando foi a última vez que o seu filho defecou.
            Eu sei que o sonho da maioria dos pais é o dia em que seus filhos pequenos irão ao banheiro sozinhos. Eu também espero por esse dia. Mas não fique tão obcecado pela sua liberação dessa tarefa Você precisará prestar atenção aos hábitos de eliminação do seu filho até ter certeza de que ele de fato consegiu!

Fonte: Texto publicado originalmente em inglês, em março/2012, no site: http://www.babble.com/toddler/toddler-health-safety/dangers-potty-training-early/. Traduzido e adaptado para o português por Taicy Ávila.

sábado, 31 de março de 2012

8 COISAS QUE APRENDI EDUCANDO SEM PALMADAS

(Por Tatyana Marion Klein)
Quase 10 anos – A história de uma educação sem palmadas.
Resolvi fazer este texto, relatando os diversos aprendizados que tive, ao longo desses quase 10 anos (minha filha faz 10 em julho). Aprendizados que recebi aqui na "Pediatria Radical", que li em livros, em blogs, filmes, conversas com amigos e, principalmente, LEMBRANDO DE MINHA PRÓPRIA INFÂNCIA E OBSERVANDO MINHA FILHA, e até mesmo pelos exemplos negativos que tive de como NÃO educar uma criança.
Para mim, aprender a educar SEM PALMADAS foi/é tão gratificante, que eu me sinto na obrigação de compartilhar o que aprendi.
·         Aprendizado 1: ASSUMA O PAPEL DE PAI/MÃE.
Essa é, sem dúvida, a primeira coisa que se deve fazer quando se pretende educar um filho: assumir o papel de educador.
Não importa se o dia foi estressante, se você está de TPM, se a criança está birrenta, se a criança ainda não fala, se você não sabe o que fazer pra contornar um conflito ... Você (pai/mãe) é quem deve ter maturidade, você (pai/mãe) é quem tem o controle da situação, você (pai/mãe) é que se permite perder o controle. A responsabilidade é sua.
Assumir o papel de pai/mãe é também colocar a criança no seu papel, qual seja: de CRIANÇA.
Portanto, por mais óbvio que isto seja, algumas pessoas não se atentam pra essa obviedade:
Pai/Mãe é Pai/Mãe = adultos, que devem agir com maturidade e que tem o direito/obrigação de cuidar e educar os filhos.
Filho é Filho = Criança, imatura, em processo de desenvolvimento, que tem o direito de ser cuidada e educada pelos pais.
·         Aprendizado 2: CONHEÇA UM POUCO SOBRE DESENVOLVIMENTO INFANTIL.
Você não precisa ser expert em psicologia ou entender as teorias de Freud (que, aliás, são controversas). Mas procure ter conhecimentos básicos do desenvolvimento infantil, como os saltos de desenvolvimento, crise dos 8 meses (angústia da separação), terrible twos, a angústia causada pela noção da morte (por volta dos 6 anos), etc.
Ter conhecimento sobre a fase que seu pimpolho está passando ajuda enormemente a entender muitas de suas atitudes. E assim, entendendo as atitudes dos nossos pequenos, fica muito mais fácil lidar com elas. Além de evitar que tenhamos interpretações completamente errôneas como “esse bebê só quer colo porque está mimado”, ou “essa criança fica me testando o tempo todo”, etc.
·         Aprendizado 3. CRIANÇA É CRIANÇA
Esse aprendizado está muito interligado ao aprendizado anterior (“Conheça um pouco sobre o desenvolvimento infantil”).
Criança vê o mundo de forma diferente dos adultos.
Portanto, não interprete as atitudes dos pequenos como você interpretaria a mesma atitude praticada por um adulto.
Por exemplo, se um adulto diz, de forma proposital, algo que não condiz com a realidade = isso se chama mentira. Já, quando uma criança pequena diz algo que não condiz com a realidade = isso não é uma mentira (pode ser uma confusão que ela faz entre o pensamento e a realidade, ou pode ser a resposta que ela pensa ser a “resposta certa” que os pais estão esperando ao ser questionada sobre algo, etc).
Assim, um adulto falar algo que não condiz com a realidade é MUITO DIFERENTE de uma criança falar algo que não condiz com a realidade.
Além disso, como já foi dito anteriormente, crianças tem suas fases. Eu sei, é chato quando ouvimos “isso é fase, vai passar”. Mas é a mais pura verdade e devemos levar em consideração a fase que a criança está para interpretar suas atitudes.
Outro exemplo de atitude equivocadamente interpretada por muitos adultos, eu falarei nos aprendizados a seguir:
·         Aprendizado 4: CRIANÇA PEQUENA NÃO TEM CAPACIDADE PARA OBEDECER – AS ATITUDES DEVEM VIR DOS ADULTOS.
É isso aí gente: criança pequena NÃO OBEDECE. Ponto.
Ter consciência de que criança pequena não tem capacidade para obedecer foi um dos melhores aprendizados que eu já tive e que mais me ajudou.
Esperar que uma criança de 3 anos obedeça é tão inútil quanto pedir para um bebê de 7 meses trocar a fralda sozinho.
Ter consciência de que a criança não tem capacidade para obedecer e, portanto, não te obedecerá, evita uns 50% de estresse no dia-a-dia.
E por que a criança não obedece? Simples, porque ela ainda não tem essa capacidade. O cérebro dela sequer está completamente formado para que ela seja capaz de conter seus impulsos.
Muito pelo contrário, nas crianças pequenas, são seus impulsos, suas vontades, seus desejos, que a controlam.
Além disso, a criança mantem uma relação muito forte com o objeto de desejo, com o que quer fazer.
Quando uma criança quer algo, ela QUER, sai de baixo. Ela QUER com todas as suas forças. E fica obcecada pelo objeto de desejo. Grita, esperneia, chora, berra, etc. Assim, se ela QUER muito fazer algo e você disser pra ela não fazer tal coisa, ela não vai te obedecer.
Portanto, esqueça a obediência. Criança NÃO tem que ser OBEDIENTE. Criança precisa ser EDUCADA.
E como se educa a criança a ter controle sobre si própria? Da mesma forma que a gente deve educa-la a trocar de roupa sozinha. Ou seja: primeiro a gente faz por ela (o adulto é que troca a criança), depois a gente passa a ajuda-la a fazer (a gente ajuda a criança a se trocar)e, depois, então, ela passará a fazer sozinha (a criança aprende se trocar sozinha).
É basicamente a mesma coisa.
Portanto, para ensinar a criança a conseguir ter autocontrole, inicialmente, são os pais que devem fazer isso por ela.
Cabe ao adulto, através de atitudes, IMPEDIR COM QUE A CRIANÇA FAÇA O QUE NÃO PODE. E, da mesma forma, cabe aos adultos, através de atitudes, LEVAR CRIANÇA A FAZER O QUE DEVE SER FEITO.
Desta forma, se a criança quer brincar com uma faca: a responsabilidade é sua (adulto) de retirar a faca da criança. Se a criança quer permanecer em algum local perigoso, a responsabilidade é sua (adulto) de retirá-la do local. Se a criança não quer escovar os dentes, a responsabilidade é sua (adulto) de levá-la a escovar os dentes. Se a criança está subindo em cima de um sofá na casa de uma visita, a responsabilidade é sua (adulto) de impedir tal fato. A responsabilidade é sempre sua. É você, adulto, que vai controlá-la.
Com o passar do tempo, a criança vai criando autocontrole, e aí você vai passar a ajudá-la neste autocontrole. Até que, então, a criança conseguirá se controlar sozinha.
Aqui, podemos retomar os aprendizados anteriores: Assuma o papel de pai/mãe; Conheça um pouco sobre desenvolvimento infantil e Criança é criança.
·         Aprendizado 5. NÃO SE COLOQUE NA POSIÇÃO DE DESAFIADO
Esse aprendizado é uma consequência dos aprendizados anteriores, como veremos:
Levando-se em conta que os pais é que estão sempre no controle da situação, que não devemos interpretar as atitudes de uma criança da mesma maneira que interpretamos a mesma atitude em um adulto, que a criança é um ser em desenvolvimento e que tem direito e receber cuidados e educação de seus pais, e ainda, considerando que a criança não tem capacidade para obedecer, chegamos à conclusão que CRIANÇA NÃO TESTA OS PAIS, SENDO OS PAIS QUE SE COLOCAM ERRONEAMENTE NO LUGAR DE TESTADOS.
Vamos imaginar a cena: Você está na casa de uma visita e seu filho de dois anos vai em direção a um lindo enfeite de cristal. Talvez o objeto tenha chamado a atenção do pequerrucho pela forma, ou pelos feixes de luz que reflete, ou sabe-se lá porque. Fato é que a criança vai ao encontro daquele valioso e delicado artefato. A mãe, vendo o perigo da situação, grita: “Filho, não mexa aí!”. A criança obedece? Se a criança quiser muito tocar naquele objeto, provavelmente ela irá se virar para a mãe e, olhando nos olhos da mãe, pega o objeto.
Ora, se você disser pra um adulto não pegar tal coisa e, ainda assim, ele pegar. E pegar o objeto olhando pra você, certamente isso é um desafio. No entanto, não é dessa forma que deve ser interpretada a mesma atitude, se praticada por uma criança.
A criança te “desobedece” pelo simples fato de que ela não é capaz de obedecer (lembra?) Ela não é capaz de fazer aquilo que ela está com vontade (São as vontades, os impulsos e os desejos que a controlam, lembra disso também?) Ela sabe que aquilo é errado e que aquilo vai gerar uma atitude negativa nos pais (talvez é por isso que a criança já faz a coisa errada olhando para os pais. Ás vezes até com uma cara feia. Esperando e se preparando para a bronca). No entanto, por mais que ela saiba que aquilo que ela está fazendo é errado, ela não tem condições de não fazê-lo. Portanto, não interprete essa atitude como desafio. Interprete essa atitude como IMATURIDADE. Afinal, é disso que se trata.
Interpretar a atitude de desobediência como desafio por parte da criança é bem perigoso e poderá causar dificuldades lá na frente.
Explico porque: Crianças veem as coisas de acordo com o olhar dos pais.
Por exemplo: se os pais veem uma atitude agressiva normal, a criança passará a achar esta atitude agressiva normal também.
Portanto, se os pais veem a atitude da criança em desobedecer numa atitude desafiadora, a criança também passará a ver a desobediência dela como uma atitude desafiadora.
Agora pense na insegurança que isso poderá gerar numa criança?! Justamente os pais, muito maiores e mais velhos que ela, que deveriam ser mais maduros e mais inteligentes, e que deveriam cuidar, mostrar o certo e o errado, e que deveriam estar no comando, passam a se sentir “ameaçados”, desafiados, por ela, um serzinho muito menor. Isso gera uma insegurança tremenda na criança, fazendo com que ela sinta necessidade (aí sim) de desafiá-los, pra verificar se eles realmente estão no comando (se ela realmente poderá ser cuidada).
E antes, o que apenas era imaturidade, passa a ser, de fato, desafio.
Deste modo, não é a criança que te desafia, são os pais que se colocam na posição de testados.
Ora, não seja um(a) pai/mãe banana, se colocando na posição de testado por uma criança de 2,3 anos de idade.
Se você olhar a situação de desobediência tal como ela é (falta de maturidade, - falta de autocontrole), tais atitudes da criança serão vista por ela mesma dessa forma. E então, além dela não ter necessidade alguma de passar a testar os pais (ela está segura e sabe que os pais tem condições de cuidá-la, pois não se sentem ameaçados e se posicionam como educadores, no comando da situação) fica mais fácil ela aprender a se autocontrolar.
E, logo, logo, ela passará a “obedecer”. Ou melhor, ela conseguirá, sozinha, controlar seus impulsos.
Lembre-se dos aprendizados anteriores: Assuma o papel de pai/mãe. Tenha plena consciência de que você é que está no comando. Interprete as atitudes de criança como atitudes de criança. Se colocando dessa forma, a criança se sente segura, não precisará testar nada e vai aprender o que interessa: ter autocontrole.
·         Aprendizado 6. APRENDA A DIALOGAR, CONSTANTEMENTE.
É muito comum ouvirmos falar “Conversa não adianta” Ou: “Já tentei de tudo, mas ele não me ouve.”
Isso non ecziste!
O que existe é que você, pai/mãe, não aprendeu a dialogar.
Taí um dos grandes motivos pelos quais sou contra palmadas: palmadas impedem com que os pais e filhos APRENDAM a dialogar. Dialogar é um aprendizado, que deve ser revisto constantemente, pois a forma de dialogar vai mudando conforme o desenvolvimento da criança. Dialogar com um bebê de 1 ano, é diferente de dialogar com um de 3 anos, que é diferente de dialogar com uma criança de 5 anos, de 7 anos, com um pré-adolescente de 10 anos e por aí vai ...
Além disso, para aprender a dialogar, são necessárias várias outras atitudes dos pais, sendo que todas elas ajudam a criar um maravilhoso vínculo entre pais e filhos e ajudam no bom desenvolvimento da criança.
Portanto, a palmada, além de impedir esse aprendizado – de diálogo entre pais e filhos – ela impede também com que ocorra tudo que está por trás desse aprendizado do diálogo. Não sei se estou conseguindo explicar o que eu quero dizer, mas é basicamente isso: a palmada evita o processo de aprendizado do diálogo. Mas não é só o diálogo que fica prejudicado, mas tudo que está por trás par alcançar este diálogo com a criança.
E, pra aprender a dialogar é necessário, antes de tudo, aprender a OUVIR.
É necessário ter EMPATIA, se colocando no lugar da criança, observando a fase em que ela está, sua imaturidade, as mudanças que ela pode estar passando na sua vidinha, etc.
É necessário dar atenção ao filh@. É necessário observar a criança. É necessário ter tempo com a criança. É necessário aprender como você consegue ser ouvido pela criança.
E é necessário criar uma relação muito forte com a criança, uma relação de afeto, de carinho, de respeito, de confiança.
E a forma de dialogar com a criança vai depender de cada família, de cada criança, e da idade dela (da fase que ela está passando).
Por exemplo, eu acredito que a melhor forma de falar aos bebês o que pode e o que não pode é através de atitudes dos pais (como descrito no aprendizado 4). Ou seja, a forma como você demonstra à criança pequenininha o que é certo e errado é através de atitudes. O diálogo se dá através de atitudes dos pais, principalmente.
Depois, quando minha filha era pequena (até os 3/4 anos), conversávamos através de historinhas. Eu ia contando uma historinha, utilizando como enredo situações que ela tinha passado, mas com personagens fictícios, e ela ia completando a historinha junto comigo, ou seja, se manifestando.
Outra coisa importante, é demonstrar os valores, sempre que possível. Por exemplo, você está assistindo um filme ou novela, a criança passa na sala bem num momento em que um personagem dá um tapa em outro. Se manifeste! Demonstre o quanto aquela atitude é errada. Diga coisas como “Nossa! Que horror!” ou “Que coisa horrível isso de alguém dar um tapa em outra pessoa!” Isso vale também para situações que você vê na rua, como, por exemplo, quando você vê alguém jogando lixo no chão.
Crianças são ligadíssimas ao que acontece ao redor. Portanto, não deixe passar batido.
Outra coisa bacana é dar exemplos de quando você era criança (elas prestam a maior atenção pra saber de como nós, pais, éramos quando criança).
Também aprendi a não ter grandes conversas nas horas das birras e estresse. A criança vai ficar na defensiva e não vai adiantar. Na hora da birra ou da “discussão” seja objetivo, sem muito blábláblá. Depois, numa hora calma, num momento de tranquilidade, em que ambos estejam de bom humor, relembre o ocorrido, de forma tranquila e na boa, e reforce a mensagem que você quer passar. Escute o que a criança tenha a dizer e exponha sua opinião. Você vai se surpreender em como, nessas horas, a criança realmente te escuta e até pede desculpas.
Costumamos ter conversas com minha filha à noite. Perguntamos se ela quer falar alguma coisa, se algo a está incomodando. Ela também nos pergunta se queremos falar alguma coisa sobre nosso dia, etc.
Tenho um casal de amigos com dois filhos que fazem “reuniões” semanais. Mas é possível solicitar uma “reunião” quando sentir necessidade. Cada um expõe o que quiser e sempre que um membro fala, os outros devem prestar atenção. Achei a ideia interessante ...rsrsrsrsrsr...
Outras famílias conversam sobre o dia durante a janta.
Sabe, eu me pergunto se todas famílias praticam isso: sentar e conversar.
Devo ressaltar também que, nesta questão do diálogo, não há regras gerais e imutáveis, sendo que a melhor forma de EU dialogar com MINHA filha, talvez não seja a melhor forma de diálogo entre VOCÊ e SEU filho. Isso vai depender de cada família, de cada criança. Por isso, é necessário cada pai/mãe observar seu filho e aprender a dialogar entre si.
Sim, dialogar funciona!
·         Aprendizado 7. RECONHEÇA E LEGITIME O SENTIMENTO, CRITIQUE A ATITUDE NEGATIVA
Este é um aprendizado que devemos ter não só com as crianças, mas também com os adultos e também com nós mesmos.
Negar os sentimentos “ruins” é prejudicial, além de ser totalmente inútil.
Somos seres humanos, e, como tal, temos todos os tipos de sentimentos, inclusive sentimentos não muito nobres, como tristeza, raiva, ciúmes, inveja, etc.
Como escreveu Clarice Lispector: “Pensar é um ato, sentir é um fato” (Sim, essa frase é da Clarice Lispector).
E é isso que ocorre conosco: temos sentimentos ruins e não temos controle sobre eles.
Imagine você falando para uma criança: “Não precisa ter medo de trovão”
Ok, precisar não precisa, mas como faz pra não ter medo?
“Não fique triste”, “É feio ter inveja”, etc.
Adianta falar esse tipo de coisa?
A criança apenas vai se sentir mal por sentir o que não é pra sentir, além dela não receber qualquer orientação em como proceder diante daquele sentimento ruim.
Portanto, ajude a criança a reconhecer e a manifestar verbalmente o sentimento e a oriente.
Por exemplo: “Tudo bem você ficar com raiva porque eu não fiz tal coisa, mas não grite e não bata a porta. Eu não admito que você grite comigo. Se acalme. Quer um copo d´água pra se acalmar? Quer ficar um pouco no seu quarto?”
Ou: “Eu entendo que você fica chatead@ quando está perdendo um jogo. É normal. Ninguém gosta de perder. Mas você não pode parar de jogar só porque está perdendo. Vai jogar até o fim e continuar tentando vencer.”
Demonstre pra criança que tudo bem sentir assim ou assado, mas o que importa são as atitudes. Assim, você a ajudará a aprender a reconhecer os seus sentimentos e a lidar com eles, de um modo civilizado.
Por exemplo, sabemos que crianças podem agir de forma agressiva, ou com manhas e birras, ou até mesmo fazendo xixi na cama quando algo as incomoda (muitas vezes nem elas mesma sabem o que as está incomodando).
Assim, se você ajudá-la a reconhecer os sentimentos, a verbalizá-los e a lidar com eles de forma civilizada, com o tempo, a criança conseguirá reconhecer tais sentimentos e a compreendê-los. E, mais ainda, ela conseguirá manifestar estes sentimentos de forma civilizada, sem precisar fazer manha, birras ou serem agressivas, apenas expondo verbalmente.
É muito melhor, e muito mais fácil lidar com uma criança que chega e diz “Hoje eu estou um pouco nervos@ por causa de tal coisa”, do que com uma criança que sequer consegue entender o que a está incomodando.
A criança precisa se sentir segura para expor o que sente. E precisa ser acolhida, sempre. Não julgue e não menospreze o sentimento dela. E a oriente com relação às atitudes.
·         Aprendizado 8. SEJA SINCERO
Não tenho muito o que falar sobre este aprendizado, pois ele é muito simples. É apenas isso: Seja sincero.
Para crianças terem confiança nos pais é preciso que estes sejam sinceros.
Tenho pavor de promessas que os pais sabem que não irão cumprir, de enganar a criança, essas coisas.
Esse tipo de “enganação” faz com que suas palavras percam o valor. Aí, todo aquele processo de aprender a dialogar com a criança vai por água abaixo.
Portanto, seja sincero.
Além disso, quando você for explicar ou justificar algo para a criança, pense sempre a real necessidade daquilo.
Por exemplo, quando você precisar convencer a criança a tomar banho, pense e diga sobre a real necessidade de se tomar banho. As pessoas não tomam banho para ganhar sobremesa, ou para poderem jogar vídeo-game. As pessoas tomam banho para não ficarem fedidas (vivemos em sociedade) e para não ficarem doentes (terem higiene).
Quando a criança pergunta coisas que você não sabe, não tenha medo em dizer que não sabe.
Bom, por enquanto é isso. Espero que ajude alguém.
Bjs a todos!

NOTA:
Tatyana Marion Klein (36 anos) é advogada, mãe da Luíza Klein (9 anos).
Esse texto foi escrito por ela para a comunidade do Orkut “PediatriaRadical” e está sendo divulgado aqui com a sua permissão. Optamos por manter o texto no mesmo formato original, por isso ele contém expressões e estilo típicos das publicações em redes sociais.

quinta-feira, 29 de março de 2012

MAIS DICAS PARA AJUDAR NO DESFRALDE


Aqui segue uma pequena lista de dicas, técnicas e materiais que podem ajudar no desfralde:
1.    Faça um cartaz para a criança colar adesivos: faça um cartaz ilustrado com fotos de crianças usando o penico (se você usar fotos do seu filho usando penico, será ainda melhor) e coloque num local de fácil acesso para a criança. A cada vez que ela usar o penico com sucesso (fazendo xixi ou cocô) dê-lhe um adesivo para que ela cole no cartaz. Podem ser adesivos de estrelinhas, de “smile” ou do personagem de TV favorito do seu filho. Brinque de contar os adesivos junto com ele, para ver quantos ela já tem. Isso funciona como reforço positivo para que a criança perceba o próprio progresso!

2.    Faça uma tabela para VOCÊ: faça uma grade com os dias da semana e anote nela os progressos e dificuldades do pequeno. Use uma grade por semana e guarde-as durante todo o processo de desfralde. Anote, por exemplo: Quantas vezes a criança fez xixi/cocô no penico? Quantas vezes houve escapes, e ela se molhou/sujou? Ela está prendendo o xixi/cocô? Ela se recusa a usar o penico? Ela pede para usar o penico? Ela já consegue permanecer seca e sem fralda por quanto tempo? Esse é um excelente recurso por dois motivos: Em primeiro lugar, ela ajuda a baixar a nossa ansiedade! Naqueles dias em que você achar que o desfralde do seu filho “nunca” dará certo, poderá se surpreender ao consultar as tabelas, e perceber o quanto ele evoluiu: está ficando mais tempo seco ou fez xixi mais vezes no penico, por exemplo. E também te auxilia a identificas as dificuldades mais frequentes de forma objetiva, para que você saiba o deve abordar primeiro.
3.    Fraldas do tipo “pull up”: já existem no mercado fraldas com esse nome, que se assemelham a uma cueca/calcinha. Elas têm elástico na cintura, e por isso podem ser vestidas e abaixadas facilmente por várias vezes, para que a criança sente-se no penico, como uma cueca/calcinha. Elas também têm desenhos q “desaparecem” quando a criança urina, indicando que ela está molhada. Essas fraldas são especialmente úteis para aquelas pessoas que ficam muito ansiosas ou irritadas quando ocorrem escapes e a criança se molha/suja. Mas têm duas desvantagens: preço elevado (pois são importadas). E a criança pode não perceber quando está urinando, por não se molhar, o que pode dificultar o desenvolvimento da habilidade da criança de perceber os sinais do seu corpo. Por isso, deve ser um recurso usado com parcimônia.
4.    Historinhas infantis sobre o desfralde: compre livrinhos que abordem o assunto do ponto de vista infantil. Você poderá lê-los para a criança antes mesmo de efetivamente começar o desfralde, de forma a começar a abordar o tema de maneira lúdica e sem pressão sobre ela. Quando você começar mesmo a pedir que a criança sente-se no penico, escolha um local do banheiro próximo ao troninho, e ao alcance da criança, para que ela os folheie e se distraia enquanto ela estiver sentada ali.

Segue abaixo uma listagem de alguns livros e DVDs infantis que podem ajudar a tornar o desfralde um momento mais lúdico e prazeroso para a criança:
  • DVD “O Urso da Casa Azul: Crescendo e Aprendendo”: tem um episódio sobre desfralde chamado “Quando você tem que ir”.
  • Livro “Hora do Penico”, editora Salamandra: Tem uma versão em azul “para meninos” e outra rosa “para meninas”. Ricamente ilustrado com fotos de crianças usando o penico/vaso sanitário, vestindo calcinhas ou cuecas, limpando-se e lavando as mãos depois de usar o banheiro.
  • Livro “O que tem dentro da sua fralda?”, de Guido Van Genechten, editora Brinque Book: livro de abas, onde a criança pode abrir as fraldas dos vários personagens e descobrir o que há dentro delas. A fralda do último personagem está vazia, pois ele já sabe usar o penico!
  • Livro “Cocô no trono”, de Bernît Charlot, editora Companhia das Letrinhas: livro sonoro, mostrando vários personagens usando o penico, e com uma das ilustrações onde a criança aperta um botão para dar a descarga e ouvir o seu som.
  • Livro “Da pequena toupeira que queria saber que tinha feito cocô na cabeça dela”, de Werner Holzwarth, editora Companhia das Letrinhas: História muito bem humorada, no estilo “lenga-lenga”, que é muito apreciado por crianças pequenas.